Queridas amigas,
Domingo passado, minha filha me ligou de Barcelona, aflita, me perguntando se era o Dia das Mães. Perguntei o motivo da preocupação e ela me disse que não poderia dar este “furo” comigo e que, para ela, a data é muito importante.
Desliguei o telefone e fiquei pensando que, na medida em que os filhos crescem, nós mães vamos ocupando diferentes imagens para eles. É um percurso interessante. Então, comecei a traçar uma linha do tempo de brincadeira e que eu agora divido com vocês, minhas amigas e mães como eu, para aproveitarem a data e refletir sobre o que significa ser mãe. Penso que quando recebemos a noticia que estamos grávidas, todas sentimos um misto de felicidade e pânico, mesmo as que muito desejaram a gravidez. Vem sempre a pergunta: e agora? O que vai ser? Eu pensava: meu Deus! Como vou cuidar de uma criança se nem cuidada fui? O que faço com a minha meninice, que está dentro de mim, tão mal cuidada e agora, sem tempo para ela. Tem um bebê a caminho!
E seguimos. Umas mais resolvidas que outras, seguimos. Que remédio! Umas com parceiros, outras sozinhas, mas seguimos com a barriga crescendo. E apesar de tudo, ou ainda bem por tudo, os bebês nascem! No começo, eles nem percebem que já estão fisicamente separados de nós. Mamães e bebês, para eles, uma coisa só. Para nós, puro mistério.
Aos poucos, os bebês vão percebendo que somos pessoas separadas: bebê é bebê e mamãe outra coisa. E ai nos tornamos as figuras mais especiais da humanidade. Somos reconhecidas pelo cheiro, pelo som, pelo tato, pela visão. Tudo. Só nós existimos para eles. Nada mais importa. Somos o centro do seu universo.
E eles vão crescendo, começam a andar, falar as primeiras palavras, mas tudo que acontece, à medida em que descobrem o mundo e seus limites, tudo gira em torno de nós, mães. Tudo é para nós. Choram quando desaparecemos da presença deles. Precisam no nosso colo, nosso peito, da nossa atenção incondicional. Aí pensamos: que delicia ser mãe! Mesmo com muitas preocupações ligadas à sobrevivência deles.
E crescendo, o que era bebê vira uma criança e para encurtar esta história, viram adolescentes. É aquela fase em que se transformam em algo intermediário entre humanos e seres de outra galáxia, talvez. Ou quem sabe, são abduzidos? E ai começa o inferno nosso de cada dia. O que era a saúde a preocupação máxima, agora só é tudo! Que pena que crescem tão rápido! De centro das atenções, passamos a ser culpadas pelas guerras mundiais, bombas atômicas, tudo de ruim que a humanidade produziu. Tudo tem uma culpada: a mãe. Tempos de inferno total. Se for filho, ainda tem o Édipo na jogada para aliviar. Mas se for filha, ai o inferno está instalado. Somos tudo de ruim, inadequadas, ridículas, algumas até histéricas. Aí pensamos: que inferno que é ser mãe! E se não passar por isso na adolescência deles, se acontecer mais adiante, pode ter certeza, vai ser pior. É... Pode mesmo ser muito pior.
E assim o tempo avança. Tem temporadas de paraíso total e outros momentos em que ficamos no fundo do poço. Os filhos crescem, saem de casa, com seus namorados ou sozinhos, para estudar ou por qualquer outro motivo, eles saem. Começa ai outra fase marcante. Às vezes somos oráculos, parceiras insubstituíveis. Outros momentos, enxeridas, invasivas ou até ninguém, completamente invisíveis.
E nós vamos aprendendo com a vida que são muitas as fases que esta complexa função nos coloca. Ser mãe não é fácil! E não existe receituário ou truques que facilitem a nossa vida. São experiências intransferíveis, que doem e também nos fazem felizes. É o lugar do erro, mas é também o que nos humaniza verdadeiramente.
Hoje, minha filha com trinta anos, posso dizer, com tranquilidade, que a melhor coisa que me acontece na vida é ser mãe. E olha que tive muitos momentos em que queria muito deixar de ser, de tamanha exaustão que este papel me colocava. Reconheço que ser mãe nos faz viver dias em que somos fadas, rainhas e outros, bruxas e monstros... Mas não somos nada disso. Somos apenas pessoas. E olha que isso já é muita coisa! E sobrevivemos. É verdade! Pessoas melhores, sem duvida.
Assim, termino este breve balanço existencial da maternidade, compartilhando com vocês, minhas amigas queridas para parabeniza-las pelo Dia das Mães. Data de consumismo ou pura caretice? Não importa o rótulo que é dado para tal efeméride. Isso não tem a menor importância! É só um pretexto para pensarmos sobre o nosso maior desafio existencial que é fazer gente. E por isso mesmo: parabéns para nós!
Beijos,
Lourdes Atié