terça-feira, 25 de janeiro de 2011

CALA A BOCA YAYÁ.


Cala a boca Yayá.

Sebastiana de Mello Freire, ou simplesmente, Dona Yayá, detentora da maior fortuna do estado de São Paulo, por ser tão rica, jovem e tão à frente do seu tempo, foi considerada louca e como punição, astúcia e má fé por parte dos seus tutores, aos vinte e dois anos, foi confinada em sua própria casa, adaptada com um forte sistema de segurança durante quarenta anos.
De louca ela não tinha nada! Sua loucura? Ter uma mente tão aberta e futurista que assustou todos os que viviam no vicio, na luxuria ou vida fútil daquela época. Muito parecida com as praticas de hoje em dia quando as roupas de marca, tatuagem, carrões do ano, ostentação, cortesia com chapéu alheio, etc, têm muito mais valor do que a honra, a honestidade e o bom caráter. Coisa que eu lamento, profundamente.
Morre, aos setenta e tantos anos, dez anos após ter ficado louca de verdade, dado aos maus tratos, clausura e intolerância, solidão em si mesma.
Sua fortuna, já que ela não tinha herdeiros, foi considerada vacante e, portanto, doada integralmente para a USP, Universidade de São Paulo.
Quis eu, trazer à baila, mais essa vitima da truculência humana, para ao mesmo tempo em que protesto, me solidarizo, pois, eu também, estive pra ser internado como insano mental pelos meus familiares, somente porque nunca me moldei à fôrma pré estabelecida por eles.
Desde criança me vi como um contestador nato.
Por sofrer de dislexia, fui taxado como burro, preguiçoso e vagabundo.
No primário tentava saber, sentir o que os termos complicados das lições que me eram ministradas para tentar entendê-los, sem sucesso. Fazia isso com o tal do “substantivo” “adjetivo” “objeto direto e indireto” “pronome do caso obliquo”...Ficava olhando para eles, tentando saber o que tinham a me dizer e como nunca me disseram coisa alguma, nunca soube pra que serviam.
No ginásio, os teoremas, as tabelas periódicas, a hipotenusa, equação de primeiro, segundo e terceiro graus, raiz quadra, potencia, etc, também não falavam comigo, muito embora a minha emoção clamasse por isso, a razão em silêncio, me deixava solitário e sem aprender, quase nada. Ai de mim...!
Aos trinta anos, como é sabido, minha dislexia desapareceu.
Ufa! Desde então, equilibradas, por conseguinte, razão e emoção, me senti liberto da clausura absurda do ser diferente.
Porém, as marcas dos trinta anos de açoites, discriminação, deboches e banimento não foram determinantes para a subversão dos meus princípios.
Não sei dançar conforme a música. Não aceito nada que é imposto. Não negocio com um punhal nas costas. Não disputo as competições de cartas marcadas. Não bajulo, tão pouco digo Amém pra tudo.
Eu não!
Difícil, viver assim, desse jeito?
Minha Nossa, como é difícil e a que preço...
Entretanto, há muito me convenci...
Vale a pena!
Afinal, ser livre é algo muito diferente daquilo que pregam por aí, como sendo, liberdade!

2 comentários:

  1. Muito bonito o seu desabafo.Trabalhei com muitas crianças dislexas, quando o termo nem era ainda conhecido. Busquei, dentro de mim, alcançar aquelas crianças, e graças a Deus achei o caminho, e todoas aprendiam comigo.
    Quando o termo dislexia ficou popular, mergulhei de cara no assunto e aprendi muito mais. Hoje sei que aquilo que fiz por intuição está hoje comprovado pela ciência . Os dislexos aprendem, basta que o professor alcance o caminho até eles, e tem maIS: os dislexos possuem uma inteligência muito mais ativa dos que os outros. O dislexo possui áreas do cérebro mais desenvolvidas para muitas outras habilidades.
    Grande abraço!

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  2. Neve,

    Muito emocionado li atentamente o seu comentário. Felizes foram
    os seus alunos que tiveram em você, uma professora atenta e capaz de ajudá-los.
    Eu, ao contrário, até de lixo e doente fui chamado por uma das minhas orientadoras. Não fosse a generosa intervenção da Dona Mirts, professora da mesma escola, na certa eu traria comigo lesões graves no meu intelecto. Dona Mirts, me chamava de namorado. Percebia e valoriza os atributos que somente ela e o meu pai percebiam em mim, valorizando, sobremaneira a minha veia artística.
    Quantos de nós, dislexos andamos às voltas por ai em buscar de olhos que nos possam enxergar.
    Quantos?

    Muito grato pela sua fala oportuna e gentil.

    Delta do Amazonas

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