Sou filho do Outono,
Sou de Abril!
No Inverno dos desastres afetivos,
Esforcei-me na intenção
Do não permitir ver trincar congelado,
Meu coração.
Filha do outono,
Também, ela é, do mesmo Abril.
Magoada, enfurecida, pressionada,
Quase fora esmagada,
Entre as paredes frigidas do mesmo Inverno.
Eu a conheci no abandono.
Mergulhada em delusão cruel.
E eu, a exemplo daquilo que eu fiz com essa orquídea
Da imagem, apresentada a mim aos cacos,
Fora objeto da minha crença, convicta.
De que ambas eu poderia salvar.
Foi o que eu fiz!
Não me arrependo.
Mas a orquídea permanece comigo,
A querer retribuir-me, débito de gratidão
Por tê-la reerguido e pô-la de pé, a salvo.
Ela, no entanto, para meu infortúnio,
Se foi embora de mim.
Grata? Talvez...
“Oh amada. Amada minha. Mulher que amei e que perdi.
De outro, serás de outros. Mas esses, colherão os frutos do solo que semeei, eu.”
Floresceras na Primavera que se avizinha.
Tão linda quanto a orquídea que permanece comigo.
Mas a filha do Outono, minha obra mais completa.
Longe dos meus braços se fez.
E na Primavera dos meus maiores anseios.
Em flor te farás longe, muitos longe do meu maravilhar.
Por tais motivos, é que, lamento e choro.
(trecho entre aspas: Pablo Neruda)
Delta do Amazonas.
Ruínas
ResponderExcluir"Se é sempre Outono o rir das primaveras
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!
E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino das Quimeras!
Deixa tombr meus rútilos Castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!
Sonhos que tombam! Derrocada Louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos! ... Deixa-os tombar... deixa-os tombar ... "
Florbela Espanca in Livro de Soror Saudade - 1923