domingo, 27 de julho de 2014

DECAPITADO NO COITO POR AMOR.



Chove na minha Osasco.
Faz muito frio. Muito frio.
E, a minha amada não está comigo.
Onde ela é?
Longe, muito longe.
No lado oposto, oriente do vasto oceano.
Dista no corpo e na vontade
Da mente de não ser mais comigo.
A bordo de um grande pássaro de metal
Se foi embora de mim, há dias.
Se volta? É certo que irá retornar.
Só que para os seus.
E, eu, não sou mais um deles.
Retornará, mas, não comigo.
Quis desaparecer, de repente.
E pra sempre.
Que triste infortúnio esse o meu.
Nunca recebi amor sincero
De ninguém que eu amei.
Na ilusão de que escolhia, a dedo
Os amores que eu quis ter.
Mal poderia imaginar que
O escolhido, sempre fora eu.
Feito em peito largo
De avenida por onde todas
Passearam a se regalarem
Sem ao menos se importarem
Com o rastro de destruição
Que provocavam às suas costas.

Todas sempre souberam
Que permanecer, nunca houvera sido desejo real,
De nenhuma.
Elas sabiam que ficar estava fora de cogitação.
Era impossível!
Partiam sem se incomodarem com o seu espólio.
Despojos de um peito
Transformado em estrada.
Pisoteio cruel.
Sulco profundo.
Trilha rasgada mata adentro até alcançar a gema.
Dos meus sentimentos.

Ladeiras íngremes para algumas,
Onde o despencar só cessava
Quando tivessem as suas vontades mais urgentes,
Caprichos, curiosidade ou sanha.
Sua força de sedução.
Desejo carnal, satisfeitos.

Outras, invés do despencar, sobiam ladeira acima.
Buscando o cume.
Cimo de um coração espalhado de tanto amar.
Nutriam-se dessa seiva em regalo esganado
Até a ultima, derradeira gota.
Ressequido, esfarelado e a merce dos ventos do norte,
Pouco ou quase nada restava de um homem romântico e crédulo.

Igual à fêmea do Louva-deus.
Esta que sem piedade, decapita e devora
A cabeça do macho, durante a cópula.
Mas que, no entanto, ele permanece a suprir
De esperma o seu ventre
Até que, satisfatoriamente prenhe, ela esteja.

Decapitado, em profunda agonia,
Agora, tento me conduzir já nem sei pra onde...

Tombo acéfalo.

(Delta do Amazonas)

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